terça-feira, 11 de novembro de 2008

XII

Vítreo olhar, nua chama
Lume nos teus olhos meus
contraídos músculos, pantomina
Um beijo na flor da orelha
Um novo adeus

Por detrás dos óculos escuros
Pulmões envenenados
decifrando enigmas
respirava, polarizava

Lembro-me então de estar nesse tempo
a volição de procurar a realidade,
o regresso às coisas mesmas

neste lugar a vida pode acabar
o coração e a respiração poderão falhar,
arritmias, manias

ao longe, muito ao longe o teu silêncio
Já não o canto dos melros sim gaivotas
Milhares de gaivotas junto ao mar
Onde não estás

Na distância que nos une - o céu


terça-feira, 4 de novembro de 2008

XI

Apagava-se a luz e chovia
A cabeça escondida por entre os joelhos.
Quando a lua iluminava a sala,
Despertava, deambulando pela casa.
Sabia premonitório o nefasto andamento
Da melopeia inumada
O som do piano e o estalido dos móveis
Sabia-o, o fantasma de Alfred Cortot
No andar de cima tocando Chopin, Debussy,
Noite fora...


terça-feira, 21 de outubro de 2008

X

Nojo e fascínio.
é preciso ser audaz para ser feliz.

a intensidade do fogo primordial de Heraclito a arder nas dunas da praia da saúde.
demasiado tempo. primeiro o papel, depois a caruma, os cardos e a madeira ganhando formas de animais e objectos.

a suprema sustentação do mundo: esta noite ou possuo a tua alma ou o teu corpo. ou te mato ou faço amor contigo.
a vida (pschychê) é o próprio corpo
o sentido: num instante, a imortalidade

deteriorização à priori da vida - reacção ao colapso
possibilidades: construir mundo ou destruir

agonia do próprio sentido
(ser atirado para fora do curso normal das coisas)
metamorfose - inovação do sentido
processo de recuperação de si

catarsis - purificação
violentação do ponto de vista
deitar fogo (queimar completamente o que não interessa)
rejeitar o que é danoso, há ao mesmo tempo algo que se mantêm - possibilidade

A violência é a vida, o aniquilamento a sua morte, sussurra-me ao ouvido, o obscuro, enquanto as chamas se extinguem lentamente

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Young@Heart sing 'Schizophrenia' by Sonic Youth

IX

O teu aroma.
Doce acido suave ou intenso?
Sublime
dos pés à cabeça. na areia molhada. na carne salgada. nas ondas do céu. beijos.



Akron/Family - I'll Be On the Water

segunda-feira, 14 de abril de 2008

VIII

Frio. Estão geladas as minhas mãos. Aqui permanecerei debaixo desta árvore, até que me venhas buscar.

Vim buscar-te. E já não estavas

sexta-feira, 11 de abril de 2008

VII

Amo-te, ela disse
Eu também te amo,ele acrescentou

Ou como dentro da conceptualidade do círculo o sangue deles circula.

VI

Voltei a reencontrar uma referencia: a palma da minha mão;
que por sua vez se inclui numa mais abrangente: a mão toda.
Isto, numa perspectiva singular, no entanto as mãos ao juntarem-se não se tocam.
Junto ao rosto, uma das mãos,as duas, alternando a simultaneidade e a sua vez única.
Desliza então sobre a face, uma ou as duas mãos, sempre com a palma colada à superfície da pele – é esse o desígnio – para encontrar, finalmente, um equilíbrio, que, ainda que momentâneo me auxilie a evitar o estrangulamento próprio

segunda-feira, 17 de março de 2008

Estilhaços

e, porque o espelho reflecte o que não sou, reflecte-me, partindo-me.



The vicious Five - 'bad mirror'