terça-feira, 11 de novembro de 2008

XII

Vítreo olhar, nua chama
Lume nos teus olhos meus
contraídos músculos, pantomina
Um beijo na flor da orelha
Um novo adeus

Por detrás dos óculos escuros
Pulmões envenenados
decifrando enigmas
respirava, polarizava

Lembro-me então de estar nesse tempo
a volição de procurar a realidade,
o regresso às coisas mesmas

neste lugar a vida pode acabar
o coração e a respiração poderão falhar,
arritmias, manias

ao longe, muito ao longe o teu silêncio
Já não o canto dos melros sim gaivotas
Milhares de gaivotas junto ao mar
Onde não estás

Na distância que nos une - o céu


terça-feira, 4 de novembro de 2008

XI

Apagava-se a luz e chovia
A cabeça escondida por entre os joelhos.
Quando a lua iluminava a sala,
Despertava, deambulando pela casa.
Sabia premonitório o nefasto andamento
Da melopeia inumada
O som do piano e o estalido dos móveis
Sabia-o, o fantasma de Alfred Cortot
No andar de cima tocando Chopin, Debussy,
Noite fora...