quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

V

Há aqui qualquer coisa.
Uma cruz por sobre a terra. Uma espiral por sob a terra. A mão que saí-a por entre as raízes. As pernas eram cactos, laminas, dobradiças exangues. Os arbustos queimados. As manchas de óleo eram aquelas que eu engoli: petróleo destilado. Havia um leve sorriso que se desenhava nos olhos que expandiam as cicatrizes nas têmporas. as cicatrizes ligavamm-se por um fio eléctrico a antenas de televisão que estando na parte superior do crânio descaiam por sobre os ombros inexistentes.
Apesar dos conceitos estarem todos baralhados, confesso-vos que havia movimento nesta máquina.
Na mistérica tridimensional existência, enquanto individuação e, enfim, enquanto espécime, assemelhava-me a Sicknick. Fuga ou reacção.
(A morte que nos ausenta, está sempre presente)
Comecei pelas pernas, depois, na física solidária coesão, as cartilagens do pescoço finalmente liberto, graças ao desprendimento das coisas não cosmológicas.
Persistência: como desmontar a máquina em plena laboração?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

IV

Coisas nos bolsos. É nos bolsos que guardo os meus sentimentos, que os escondo. As coisas, os símbolos, as vivências. Nú, sem bolsos, recupero os meus gestos fecundos, ontogénicos.

Hey Joe

Tenebroso e envolvente - Nick Cave, Charlie Haden and Toots Thielemans revisitando recônditas obscuridades

III

(o eterno retorno aos comprimidos existencialistas)

Fake mater: dissimulação - os figurantes, o governador civil, os assistentes da opera ovogénica, o pseudo- psiquiatra cantando la donna è mobile, os casamentos - no fundo a representação vital, os actores fenoménicos percepcionando a própria coisicidade das coisas aguardam apenas pela vagina dentata, pelo desvelamento.. desvelar? não. ESventrar o ser. mas eu não quero saber de nada disto, pelo menos enquanto não me crescer a franja do cabelo.

Era só o que tinha que fazer: correr. Sentir, como Thèrese gostaria de ter sentido os músculos das nádegas exercitarem-se. Correr, tão somente e tão complexo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

II

Sicknick não era um erro, nem biológico, orgânico, muito menos crucial. Amarravam-no (e eu sabia-o bem porque passaria pelo mesmo9 à cama prendendo-lhe os pulsos e o ventre com umas corda atadas por u cadeados. O sangue das m~´aos . o grito 8ainda) furioso) e enlouquecido da alma. Sabia-o bem. O desespero de gritar por ninguém , o desespero de nõ me ouvir.

Que idade tens Sicknick?
Presumivelmente fugidia mas pronta, sem hesitações a resposta: 10 anos. Ai Sim?, insisto: - em que ano nasceste? Como se adivinhasse a pergunta: -Ainda não saí do buraco.
Pareceu-me com vontade de prosseguir respondendo mas fiquei elucidado e parei continuando em sentido côncavo – mais alguns dias, quantos nunca saberei ao certo.







Há lugares que nos trazem lembranças dispares, normalmente esses locais estão impregnados de caganitas de pássaro.


(se eu conseguir extirpar este aranhiço da geometria impossível do meu crânio talvez me consiga salvar)











Sou um anjo. E sou louco. E Dispenso a vossa normalidade. Talvez não o saibam mas são estas as palavras que vos observam na sua invisível transmissibilidade.


Look at me – look at your fucki’n shadow
Look at your mistress teardrops raped by yourself
. Sicknick sentava-se à minha frente durante as refeições, alem de alguns múrmurios ininteligíveis, cuspia ou vomitava as papas previamente elaboradas para o seu estômago sensível – homem pequeno, vagueante, obsessivo, parava e arrancava vezes sem conta, logo, era para ele um suplicio estar ali sentado tentando deglutir o que quer que fosse, apenas os comprimidos o pareciam satisfazer. Nessas alturas vislumbrava-lhe um esgar vitorioso. Eis-me o vosso demente preferido aquele que representa o papel escolhido .

por qualquer desígnio que me ultrapassa. Deus usurpador estará com certeza por detrás disto.
Questionar, eis o pecado mortal nesta instituição. A língua arde com um anti-psicótico e acabam-se as perguntas. A fisionomia mime fica-se numa norma pré-estabelecida. A entoação esbate-se. A argumentação é um bicho do mato liminarmente abatido.- (a língua continua interminavelmente a arder) os cigarros sucedem-se
O sangue novamente, nos lábios, nas guelras do peixe morto. o vermelho e eu que era o peixe. O homem-peixe. O escolhido e o primeiro que encontrou o esqueleto de sicknick depois de o esventrar. Ele, complacente agradeceu a redenção.
Sabem, eu vi o Homem-peixe dentro de água sobrevivendo dentro de uma redoma de vidro, quando ainda era muito novo e sabia que eu era ele – uma busca aleatória com um fim determinado, apenas uma questão de tempo. Intermutências intermitentes. Na verdade nunca fui ninguém, um pouco de tudo um pouco de nada, a mónada desarmonizada, sem asas e sem túmulo, continuamente observando-vos apenas e só.

A cavidade nasal direita, o anús, o osso externo do peito (fiquemos-nos por aqui) – algumas das partes invioláveis à água por parte do corpo de Thèrese. Inter rinas et faeces nascimur algures. sentada às refeições
do meu lado esquerdo, invariavelmente vestida com o mesmo desbotado robe e a descascar maças.- Ai valha-me nossa senhora, tinha que ficar ao lado deste estafermo repugnante, referindo-se a sicknick. Tem uma voz arrastada mas ao mesmo tempo estridente, os olhos baços parecem por vezes saltar-lhe das órbitas, a fisiologia esquálida, avoluma-se de tal forma por intoxicação medicamentosa, explodindo os dentes e restos de comida para cima da mesa e restantes comensais. Gosta de mim. Aprecia a minha sobriedade e a minha insistência em ser informado do que se passa a minha volta. Não raras vezes senti por debaixo da mesa os seus pés fura peúgas a roçar-me nos tornozelos. Amamo-nos uma vez junto à maquina expresso enquanto introduzíamos trocos e esperávamos a saída dos cappuccinos. Decididamente, agarrou-me o sexo e esfregou-o no clitóris hirto. Finalmente penetrei-a enquanto uma mão subia pela coxa esquerda por debaixo do robe pútrido e a com a outra saboreava o cappuccino já disponível.
No fim abraçou.me e recolheu o seu troco.
Minto: uma segunda nos amamos de forma granulada ainda antes de a matar, mas a explicação ficará para mais tarde.. Além da mania das limpezas utilizava a sua sapiência heliográfica para nos entreter durante as horas mortas. (os matraquilhos não tinham bola para jogar).

Maura não podia sofrer. Sentada do meu lado direito. Foi a primeira a alertar-me para o perigo de dar cigarros indiscriminadamente aos cravas, conselho que segui escrupulosamente, mas que ela , curiosamente, não. Nos raros instantes em que pôde sofrer, Maura foi feliz. Tomávamos banho juntos e ficávamos durante horas de olhos fechados a sentir a insobriedade. Circunstancialmente asfixiei a outra personagem quando deixou de chorar, a mascara jazeu a meus pés. O altruísmo de carácter egoísta não saberia lidar com as duas directivas sobrevivência/reprodução.

sábado, 8 de dezembro de 2007

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